Wednesday, May 7, 2008

As vezes...


As vezes não falo por obediência a alguma ordem oficial, não falo por obedecer alguma lei, as vezes não falo de acordo com determinadas filosofias, as vezes não falo inspirado em alguem que tanto admiro e que defende principios divinos. As vezes falo em nome do meu coração. O que se diz de acordo com intelecto é diferente do que se diz de acordo com o coração. O intelecto de muitos de nós é feito de conhecimento adiquirido mas o coração de outros atribue o saber natural a seus intelectos. Já vi muita sabedoria não ir de acordo com a prática de quem lança tais sabedorias, inclusive eu tenho sido acusado de ser falso moralista. Aceito qualquer opinião contrária, somos partes feitos de um todo. A perfeição é construida com o tempo, é como uma história, em que o triumfo não é palpavel não é material, é espiritual.

Não estudei moralismos, não sou formado em alguma Pedagogia de Educação moral, mas uma coisa é certa, o meu coração não para de me alertar para que contribua com alguma moral por natureza. A minha luta para tranformar vinho em água, a minha luta para tornar pedra em ouro é incansável. Eu vim falar de coração porque os meus olhos deram um sinal da alma, caíram lágrimas que o coração enviou no dia em que rodei pela primeira vez o som “Hiphop tindlelene” do grupo Timbone ta djá.

Não sei se alguem poderá alguma vez incorporar o sentimento que tenho pelo rap e por algumas musicas, sem querer desvalorizar musicas de outros colegas no “jogo rap” se assim o aceitarem. Se assim o aceitarem porque proponho que cada um revisite noções de “jogo”, o termo “rapgame” é famoso e ouço a usarem-na, mas tenho serias duvidas sobre o dominio desse jogo, porque todo o jogo tem regras(e se dinâmicas forem, melhor), os jogadores estão cientes disso. E o jogo é caracterizado por uma tensão, por alegrias. Há também infratores, há os grandes vencedores e há um objectivo comum que é ganhar. O Jogo pode ser desenvolvido como mera diversão, mas não deixa de ser algo mais vital, que tem haver com a nossa relação com a vida. A brincadeira do animal, da criança ao adulto até ao movimento de uma sociedade inteira , estão sob uma condição de jogo e sobretudo sob uma fluencia diversa em termos de noções que cada um tem dele. A verdade porém é que na ausencia de arbitragem, cada um de nós ou seja, os jogadores devem agir de acordo com juízo. Mas alguns aproveitam-se da pouca compreenssão e da limitação do domínio técnico-talentoso que outros jogadores tem, para tirar partido. Ainda há os que jogam como “desmancha prazeres”, violentos na sua forma de jogar, e temos visto na sua acção a procura nada mais do que reconhecimento e atenção, próprio de um bebé no seu egocentrismo, o centro das atenções, a doença de todos nós, seres a caminho de encontrar alguma luz. Não falo em suporte de algum ditado usado para criar “forrôr”. Falo em nome do meu coração. Sentí o divino ultrapassar-me todos os prazeres. Se existe algum outro extremo sentimento de bem estar a que os seres humanos podem atingir, então eu alcancei, em alguns momentos alí no L-8, estudio da Radio Moçambique em exercicio emissões do canal da Radio Cidade.

Vejo muitas mudanças intelectuais e tecnológicas mas meu coração me diz que estou longe de sentir o termo “familia”. Fico perto disso quando ouço “uma tarde em paz” de F&G, fico excitado quando ouço o remix de “As mentiras das verdades” de Azagaia e o grupo Paiol Sonoro, e agora ainda neste “hiphop tindlelene” é indiscritível a sensação. Sinto me longe do conceito familia quando alguns enganosos estados de consciencia tendem a convidar-me a “regiões baixas”, como alguma vez disseram os “humanistas”. Mas eu insisto em manter-me em vigília ordinária. Tem sido uma experiencia gratificante atingir estados mentais agradáveis a ouvir uma musica como “Hip hop tindlelene”, principalmente quando a esses “tindlelenes”¹, se pretende conforme na musica deixar uma mensagem. Nhez e Mukhupia procuram na sua vertente linguistica chegar mais perto do alvo(a sua comunidade). Tirei lágrimas sim no decorrer do tema deste “duo” da Polana Caniço. Num daqueles dias de semana em recolha de material na portaria da Rádio Moçambique, recebi um disco que trazia num papel a manuscrito o seguinte recado: Nome do Grupo- Timbone-tha-djá; titulo da musica-“Hiphop tindlelene”(hiphop nas ruas)- E de seguida em quatro parágrafos escreveram:

A click é composta por NHEZ e MUKHUPUIA, dois rep’ra que residem no bairro da Polana Caniço, concretamente no “compone”.

A música hiphop a tindlelene tem como objectivo informar e difundir o rep e a mensagem na lingua local, abrangindo desta forma todas comunidades.

Expressa também o sentimento e o amor pelo ritmo, a capacidade da poesia e do pensamento, a paz e o amor pela cultura.

A musica foi gravada no estúdio da Kasulo e a materização esteve a cargo do kachimbo da paz.

A instrumental foi produzida pelo produtor “DA PAGE”


Assim está e não fizemos alteração nenhuma ao conteúdo, para que os leitores percebam e estejam situados sobre nossos objectivos ao duvulgar a cultura hiphop. Atualmente há muita violência psicologica e muito cinísmo, quando conversamos uns com outros seja cara-a-cara, via sms, ou nos chats e foruns na Internet, atravês dos blogs, e sobretudo atravês das nossas musicas. E muitas dessas violências vem de pensadores, jornalistas, letristas, ouvintes, produtores, artistas hiphop, e outros demais envolvidos de alguma forma com esta cultura gente que devia ser suporte da tal amada cultura hiphop. Alguns tem amor pela sua musica e não pelo rap, outros ainda tem amor pelo seu “bando” de amigos e não propriamente por uma cultura que envolve milhões de pessoas em todo o mundo, mas é no hiphop que veem procurar um abrigo para se fazerem sentir.

Eu sou da musica e não só do Hiphop, a musica é que me connectou ao hiphop, e o hiphop deu uma conecção vital construida com o tempo, nada que não se possa desmoronar. Ninguem melhor do que ninguem mostra um coração aberto, é isto que falta no seio da ausente familia hiphop Moçambicana, amor. Se bem que devemos confrontar nossas ideias sobre o que é amor.

Vão dizer determinadas pessoas que devo ser exemplo de expressão de tal amor. Mas a minha expressão e gesto de amor é invisível a olhos de planos inferiores. É preciso enxergar mais, não se pode ver com olhos de filosofias de odio entre próximos a dividir pessoas. Seres humanos não querem se amar querem cada um a sua forma estar aprisionados a filosofias divisionistas em nome do contributo para mudanças, mas operar mudanças não é ser animal com boca a frente e atrás. Tal como Diz o casal Fatin Dazler e Aja Graydon do grupo “Kindred the Family Soul” ¹: -Capitalizamos o nosso amor na boa musica!. - A musica “Hiphop tindlelene” do grupo Timbone ta Djá, foi um pretexto para juntos encontrarmos um deleite espiritual que continua a fazer do hiphop um verdadeira cultura de paz.


Malele, 08

Malele, 08