“...O hiphop precisa de nós , e onde estamos nós , aplaudindo artitas que de hiphop estão longe..”.
Presságio em “Crecer para onde?”
Entre discórdias e concórdias sobre melhorias no hiphop nacional, 2009 fêz-se um ano decisivo para o hiphop que se aproveitou do sono ou aparente declinio do “pandza” para se revitalizar. No centro do que marcou 2009 estão sem duvida, a realização pela primeira vez de shows que valorizam o produtor musical como a “Xpobeats”, as constantes “IndieHiphopFest”. Depois de andarmos a agitar o patrão da musica jovem(Bang) em âmbitos informais, para fazer um festival hiphop, ja que ele é que anda com “a faca e o queijo na mão”, acabou realizando pela primeira vez um festival que se tentou fazer grande e chamou-se “Mcel hiphoprules”.
Não queremos dizer que ele fez porque ouviu-nos, mas de facto se Bang não fizesse nada sobre hiphop mesmo que seja algo totalmente comercial., sinceramente!... não compreenderiamos nunca como é que ele foi rapper. Neste espectáculo, o “Mcel hiphop rules” tambem foi reservado um momento em que alguns membros do Rappers Unit receberam troféus de pioneiros do hiphop nacional.
Em 2009 destacaram-se o espectáculo de lançamento do single “amiga” de Iveth. O lançamento do album Caneta e papel de Micro 2, O lançamento do album Victória do rapper DMG, uma edição da produtora angolana da “So much more”. A Inauguração da primeira loja dedicada ao hiphop, “a garagem”. O lançamento do album Bloko II de kapacetes Azuis. Embora a maioria não conheca o valor de Al jazz na area da produção musical, este é um produtor que teve em 2009 dois momentos altos, primeiro com o lançamento do album Africa's Boomboxx, fruto da sua colaboração com rapper americano da cidade de Florida, Mercy do grupo Blackspade Entertaimnet. Segundo, destacamos o album do duo Impact constituido por Al jazz e o rapper norte americano Spon. Brazilionaries é o titulo do album que tem Al jazz como produtor na totalidade sobre rimas de Spon, tal como aconteceu em Africas Boomboxx.
A Gpro que esteve algum tempo adormecida acordou com o lançamento e venda do single “Kara Boss” de Duas caras via sms e o seu regresso quase triunfal, se bem que se forçou um segundo lançamento com a vinda do rapper e produtor Sam the Kid, cuja as possibilidades pelo que parece tiveram muito haver com parcerias inevitáveis entre a empresa Bang entretenimento e a G pro. A mesma G pro ja havia lançado tambem uma “mixtape” em Março de 2009 remontando as raizes do hiphop que estão ligadas a cultura da mixtape.
Não podemos nos esquecer do aviso de Shakal para que passemos a palavra de que o seu primeiro album está a caminho, Assim como nao podemos de citar as movimentacoes da produtora Ovelha negra a proposito dos seus shows “Underground Independente” e o “Poder da palavra” . A vinda dos rappers Keith Murray, e Bow wow embora vindas “precoce” ja podem dar inicio a passagem de mais rappers norte americanos sejam eles “conscious” ou “fake rappers”. 2009 ficou marcado pelo aparecimento de muitos novos grupos mas tambem pelo regresso do grupo Aranha Céus com “Crack smoker” no centro das movimentações. O silêncio do nosso programa na altura desse beef mostrou a nossa posição em relação ao “beef” entre os grupos Micro 2 e o recente grupo de rap LCD . O lançamento do preludio amor e drama do antigo rapper e atual cantor de RnB e soul G2 tambem foi um ponto marcante. A ida recente de Azagaia para concerto de Kid MC em Luanda.
Sentimos tambem que tem que haver um momento de explições por parte da direcçao da Track Records a propósito da saida do grupo Trio fam e mais tarde de outros membros da produtora, caso que foi levado ao “tribunal” atracções de Fred Jossias e se fizeram os famosos alaridos concerteza sem o consentimento de DJ Beat keepa e do Trio fam, aliás o grupo já havia nos dito que haviam saído da Track Records, mas que não fariam nenhum pronunciamento publico sobre o assunto. Nisto tudo pesou o facto do assunto ter ficado nos “media” de qualquer maneira e pesou ainda de acordo com Joe da Cotonete records o facto do grupo ter estado adormecido em termos discograficos e espectáculos. De tal de modo que espera-se que em 2010 o grupo possa restabelecer-se no sentido de oferecer alguma coisa ao publico.
Numa altura em que muitos dizem que o hiphop cresceu, ganhou espaço e está com mais atitude, outros ainda acham ser necessario dar a volta as dificuldades de varia ordem que assolam o movimento como por exemplo a falta de união e outros pormenores. Mas a nossa grande preocupação é o facto dos africanos e outros um pouco por todo mundo estarem influenciados pelos valores do novo rumo do hiphop que segue o rumo da nova ordem mundial. Poucos sabem( não é facil que todos percebam) que o hiphop não está atualmente na sua essência, até porque o rapper nova Iorquino Keith Murray disse em entrevista na Radio Cidade que o hiphop norte americano estava envolvido com “maquinas” de fazer dinheiro, que no lugar de valorizar a arte ela está incluida com as grandes corporações que definem o comportamento de toda uma industria musical que não tem nada haver com os principios e a verdade sobre o hiphop. E nós bebemos ao longo dos tempos estes novos valores do hiphop onde o egocentrismo e o materialismo ridicularizam a cultura em nome da necessidade de lucros imediatos. Infelizmente a aspiraçao dos novos executivos e gestores a modelo de economia de mercado só poderão se aperceber do impacto negativo deste modelo de gestão com o tempo. O mentores desses modelos de governação só ainda não aceitaram oficialmente que esse capitalismo e essa imperialização mundial é um projecto falhado. Mas pessoas como Karl Marx ja haviam dito e os efeitos da globalização seriam desastrosos para os paises mais fracos.
Só esperamos que todos tenhamos tirado uma lição com a atual crise. Lembro-me que falamos um pouco sobre isto nos tempos do “hiphoplaranja” mas infelizmente naquela altura fomos pouco percebidos e como o tempo se encarrega de clarificar as coisas é ele mesmo que vai esclarecer- nos sobre politicas correctas ou incorrectas para cada um de nós. Alias terminou na Argentina do dia 2 de janeiro a Marcha Mundial que vinha acontecendo desde 2 de Outubro e que teve o seu inicio na Nova Zelandia. Uma marcha que tem objectivos claros, a não violencia como método de acção, o apelo a não fabricação de armamento nuclear
Já no final do ano o rappere Y Not deixou ficar no ar e em terra o seu ultimo trabalho. O primeiro trabalho discografico duplo na arena hiphop, corrijam me se estiver enganado. Um album a nosso ver caracterizado por uma nudez lirica, em que o rapper caracteriza o mundo em que vivemos e as nossas realidades mais particulares. Yazalde Yazalde mostra tambem um rancôr endereçado a aqueles que na sua optica causaram-no mal por causa do seu anterior album(tudo se vende tudo se compra), mostrando que há um caminho a percorrer para definitivamente aceitarmos a critica seja de quem fôr. Eu tambem podia ter me aborrecido quando se falou num “skit” desse mesmo disco sobre alguma coisa tal de “Helderismo”, parecia que de alguma doutrina se estava a tentar falar. Mas a verdade porem que cada um de nós é uma doutrina. E que vivamos com o respeito a essa diversidade doutrinal. O como tu vês e como eu vejo as coisas são factores paradoxais. “Ultimas palavras”, album que vai merecer, e tem que merecer a nossa atenção em termos de revisão de albuns, principalmente por ser duplo aliás há gente que pressiona para que façamos esse trabalho.
Do outro lado do planeta há um empenho dificilmente visivel de pessoas do hiphop que continuam acreditar que se deve influenciar positivamente as novas gerações para que não herdam tarefas dificeis de dar resposta. A Nivel internacional há que destacar o trabalho discografico de KRS One e Buckshot “surviving skillz”, assim como o album Arts and enterteniment de Ed OG e Masta Ace. São dois dos variadissimos trabalhos no circuito underground que se dedicam com boa musica a lutar na fixação da verdade sobre a cultura hiphop. No âmbito de topo tambem não poderiamos deixar de citar blueprint III, o ultimo trabalho discografico de Jay Z que mostra um Jay Z que mesmo depois de ganhar tudo ainda procura algum perfeccionismo em termos técnicos como forma de não se perder nas novas tendencias "Lil´ Waynisticas" ou T Painisticas d o hiphop. Em 2009 Obama tomou posse como o primeiro presidente negro norte americano. Cá para nos parece que tudo vai bem, é como se o racismo estivesse a retroceder, e ele disse que a sua eleição é uma forma de qualquer menino negro nos suburbios norte americanos poder acreditar que pode um dia ser presidente. Mas Barack Obama esqueceu-se de dizer a esses meninos que no fim do dia o presidente não pode acabar com o terrorismo, com a venda de armas, a fome e a exploração pelo mundo, porque acima dele existem instituições que decidem como ele e todos temos que viver.
Da parte do circuito underground, houve o sentimento de repulsa pelos crescente uso do efeito “auto tune”, que tem sido o recurso para varios artistas no sentido de facilitarem a sua afinação e darem o efeito especial a sua voz.
Sentimos tambem em 2009 que não é fácil singrar pois o espaço continua ser daqueles que definem a cultura e as artes. No geral foi um ano de sucessos se nao olharmos para ganhos pessoais e materiais. Mas de ponto de vista tecnico crescemos, sem condicoes mas crescemos. agora e tempo de crescer espiritualmente
Por aqui a palavra de ordem continua a ser uniao, este é o vento que sopra de todos os lados, mas para que haja união, vai ser necessário construir novos homens, novas sensibilidades e não sensibilidades baseadas na construção individual do imperio hiphop.
Para todos hipphoppers do Rovuma ao Maputo, aquele abraço e sucessos em 2010
Hélder Leonel
(MC, Produtor e Apresentador do Programa Classicohiphoptime)