Wednesday, September 9, 2015

Falando sozinho




Por DJ Malele

Já lá vai um mês que tiveram lugar no mesmo dia, três shows de Hiphop na capital e arredores, acontecimento este que gerou preocupação e debate por parte de amantes, fazedores e críticos do hip-hop nacional. A verdade é que, mais do que lançamentos de álbuns, mixtapes e outros elementos, a cultura hip-hop em Moçambique ocupa-se mais do elemento MC,  elemento mais presente em shows, infelizmente ainda em pequena dimensão.  Depois de pouco mais ou menos 20 anos de hip-hop em Moçambique, pelo menos Maputo e seus bairros periféricos deviam andar a concentrar cerca de quinhentas à duas mil pessoas em concertos onde o activismo que se foca no desenvolvimento comunitário fosse uma realidade, antes mesmo de se tentar construir  astros onde
a indústria musical tem falta disciplinar. De facto o liberalismo que assaltou-nos  no final da década 80, criou aspirações despidas de certezas sobre mercados e suas lógicas culturais, também despidas de conhecimentos de códigos que nos levem a sermos bem recebidos por números consideráveis de pessoas.  É por estas e talvez por outras razões não mencionadas aqui que andamos em fóruns privados como whats upps e plataformas sociais como facebook a discutir se deviam ou não haver concerto de hip-hop num único dia.

No dia 8 de Agosto teve lugar o concerto Agosto Mbawulene de Xitiku ni Mbawula no Salão Assucena, bairro Patrice Lumumba, que demorou começar, mas o espirito que se apoderou do Duo de Patrice e do público aderente ocultou a demora e as pequenas insuficiências técnicas que caracterizaram o show. Na mesma data estava a acontecer do outro lado da lua, a terceira edição da tourné Caixa Postal do teu Bairro, dos Kapacetes Azuis,  que teve lugar no Complexo Molumbela no bairro do Zimpeto. Agendado  muito antes do Agosto Mbawulene que esteve inicialmente marcado para 1 de Agosto, mas que por razões envocadas pelos donos do espaço, e alheias a vontade de Dinguizwaiu e Sgee, teve que ser adiado para 8 de Agosto, data para qual os Kapacetes Azuis já se haviam posicionado para Zimpeto. Um terceiro show também estaria a ser publicitado na internet e com toda pompa e circunstância e de minuto em minuto na Rádio Indico sobre Duas Caras e um tal de "Vitz Amarelo", para a mesma data e hora só que desta feita no Café Bar Gil Vicente. Não importa agora fazer estatísticas mas os três shows aconteceram cada um a sua maneira sem que  fosse culpa dos organizadores que  acontecessem no mesmo dia.  Agora, não me digam  que temos temos que coordenar para não haver choques.

É preciso que os grupos realmente mostrem o seu valor arrastando os seus  públicos independentemente de um outro evento relacionado com hip-hop que esteja a acontecer. Se não teríamos que fazer xitique, no sentido de hoje vamos para ali amanhã vamos para acolá, proibindo que um outro membro do grupo do xitique faça  a sua festa, e de facto na lógica do xitique não se fazem duas festas ou mais de membros do mesmo grupo,  a não ser que as outras festas não tenham haver com xitique.  Não foi dado um tratamento de movimento cultural ou social unido ao hip-hop moçambicano,  e não vai ser agora por causa de shows paralelos que vamos envocar a questão da união. Uma coisa é o amor pelo hip-hop outra coisa é o amor por este ou aquele grupo e quando se trata de uma produção cultural a venda, a espera de consumidores, é como um empreendimento que está sendo apresentado para consumo,  de tal modo que se coloca em posição de competividade, vulnerável a morte súbita ou a sucesso de bilheteira, é o elemento hustling, que faz o seu enterprenurealism, negócio nada pessoal, como já disse EPMD, “Business never personal”.

Entre reflexões e rescaldos também vale a pena saudar a outras iniciativas que estão a ter lugar e que fazem o hip-hop moçambicano respirar, como por exemplo os lançamento de albuns  Ackacyanos Vol. 2 de Ackacya Records que promete lançá-lo fisicamente para breve, embora ainda muito na surdina está também  disponivel o album Footprintz  de Al Kaponn, o single É mais um novo dia de Epodez, o album A Moral e a História de Drifa e Fechadura, Decidí ser normal de Y-Not,  aquela parafernália musical do Projecto Underground  que faz limpeza aos esgotos, a semi-consciencialização dos 2 Lados, a toda coisa  produzidas por Billy Ray, e as vezes pergunto pela ausência de um Terrabyte Espadachim, L Nato, Leybniz, Kalashnikov ou Rei Salomão que poderia devolvermos a questão do carisma, ajudem-me se faltar algum nome, não é por mal.


Também não nos devemos esquecer da mixtape Sociedade em Movimento de Singaman, que está a conhecer uma óptima recepção em termos de vendas, sem deixar de lado os lançamentos grátis, seja pela internet ou pela radio dos trabalhos como por exemplo "Universidade Cultural"de DJ Asnepas com participaçao de DJ EPM, DJ que tem vindo a destacar apresentações de live sets e varias edições de misturas disponiveis nas redes.  São também de louvar soltas como “Andam loucos” de Big Trigah e Teknik pela MX Music, ou “Encontro de gigantes” de 7 Kruzes com Big Triggah e Real Vice, assim como “Afrofobia” de GeeFly, "Eu amo o trabalho" de Cream & Da Page, “Estrelas estão no céu” e “Predadores a solta”  que marcam o regresso de Almas Habitantes, ou ainda a indispensável “Superação de vida” de Master Bad, esta última uma afirmação de mudança de comportamento que se faz noticia das mais saborosas do momento quando se fala em Desenvolvimento Humano. Sauda-se tambem nestas linhas à alguém que desconheço e que se arriscou  a realizar com alguma segurança um concerto intitulado HipHop Sensation que trouxe o rapper sul africano AKA para o Parque dos Continuadores no passado dia 29 de Agosto, tendo como anfitriões uma corrente mais actual e mais pop rap com nomes como Dice, Hernani, Slim Nigga, Lay Low, CR Boy, Dama do Bling entre outros. Este concerto deve servir de lição aos rappers românticos a dormir na sombra não sabemos de que bananeira.  


Meu amigo Fábio a.k.a Drakulah tem uma energia impecável e está de parabens em manter o esforço e trazer a cura através das suas pregações, vale a persistencia, mas precisa de assessoria para enxengar longe, para não nos contentarmos com atividades mecânicas. Quanto ao elemento DJ este está merecendo uma especial atenção por um grupo de DJ´s (Budda, Sidney, Uncle P, Malele, Klax) que a qualquer momento vão tirar o coelho da cartola, mais não disse.  O mundo beatmaking levou a criação do Mute Band, liderada por DJ Nandele para materializar o hiphop psicadélico combinado aos live drums and bass baixo. Nandelle e Fu, tão bem fazem esse corta-mato para a performance alternativa do hip-hop. Talvez este seja o caminho para poupar custos de bandas ou para se colmatar a lacunas dos DJ´s que pouco fazemos realmente numa performance hip-hop, aliás Fu já o disse nas reflexões do Hiphop Aprecition Week.

Dá me impressão que muitas pessoas fingem não ver mas o certo é que Iveth vai representar-nos no próximo Festival Internacional do HipHop  da CPLP,  e não vale dizer que devia ser Fulano ou Cilcrano, porque esses não se fizeram visíveis a ponto de conseguir fazer parte e porque tambem há plataformas que não hão de vir buscar o rapper sentado na sua casa. Pela situação em que nos encontramos em termos organizativos e internacionalização do nosso rap, melhor é não pensar no que seria ideal ou não porque Iveth é ideal para já, e só nos resta deselhar-lhe o óptimo trabalho no Arena em Lisboa, dia 9 de Outubro.


Não deixamos de lado os Live Shows do programa Marcas do Hiphop da Gungú TV, que estão chamar a vontade inédita ou antes inconcebível de supostos undeground Mc´s de se preocuparem com vídeos, mas diga-se em abono da verdade que durante todos estes anos tem sido difícil para o hip-hop no geral incluir vídeos na sequência de programas bem conhecidos,   sem querer mencioná-los. Por isso Marcas do Hiphop e HipHop Randza são a luz no fundo do túnel para que, não de forma banal e ignorante, possam ajudar o nosso hip-hop a escrever certo em linhas tortas.  Há uma dificuldade em pensarmos, sentirmos e agirmos na mesma direção mas seja como for há que desejar muita força nessas atividades a gente incansável como Siderurgia Núcleo de Hiphop, Consciênte Sociedade, Rap Mais que Musica,Thumba Sounds, B Records, Revolution, K7s Style Entertainment, Unidos Pelo Rap Moz,  Brain Events, DJ Leopardo pela reunião dos 32 rappers de quase toda a parte do país.


No Horizonte estão a  vista shows, uns próximos e outros mais distantes, a começar pela  re - edição do Ponto 21 Maior Idade: Geração Beats de Baba X,  dois anos depois,  a acontecer no próximo dia 19 de Setembro no Café Bar Gil Vicente, inserido no Caixa Postal do teu bairro que vai na quarta edição. A Small, Squeeza, Mykha e Rosy, Lubengula e Xitiku ni Mbawula, DJ Malele e Magus da Siderurgia vão fazer as honras da casa nesta iniciativa da K7s Style Enterteinment.   
Segue-seMúsica Armada de Conhecimento”  uma iniciativa de PR Dogg que sobre vantagens televisivas vão deixando as suas Marcas no Hiphop e terá lugar no dia 26 de Setembro. Jazz P, Matador, Inocente, Hell Soldiers, Lubengula e Don Mcezalin estão destacados no cartaz, e ainda bem que não é uma lista de rappers que ultrapassa os meus dedos. Entre estas datas pode ser que caia em Maputo um rapper de Detroit para o Festival Amor a Camisola, é só ficarmos atentos, assim, enquanto formos tchonados não precisamos de ir à Soweto para ver nossos irmãos das terras do Obama aqui em casa, e nesse âmbito prevê-se que rappers, escritores e declamadores discutam caminhos para a sua poesia contribua para transformação da sociedade.  


Lamentamos a morte de Sean Price, mas a vida não para pois Crack e Da Page reservam para o dia 10 de Outubro de 2015 a apresentação do seu álbum, Ah Compone, embora ainda não temos a ideia em que realmente consiste o trabalho, mas é só  imaginar a função de cada um deles, está claro que Crack não faz beats e nem se quer Da Page faz performance rap. Cá entre nós, está em curso a idealização da Gala dos dos 20 Anos do programa Hiphop para 2016 tendo em conta a dimensão que requer comemorar 20 anos, já que data comemorativa é 18 de Novembro.  Enquanto esperamos por essa data vamos procurando apoios e minimizando condições, se bem que a esta altura de final de ano só o mágico Zimba para fazer milagre, a ver vamos. Já agora podemos iniciar o debate seja ele público ou não sobre quem deveria ser distinguido pelo seu contributo ao longo dos 20 anos do clássico hiphoptime. Só para corrigir, o termo clássico não se refere a um estilo de hip-hop, mas sim a longevidade do programa, se bem que  para se ser clássico deve-se ser meio secular não? Mas aqui, apropriamo-nos do conceito como recurso estilístico para dizer, antigo, maduro, velho não seria, acho que ainda não atingiu a terceira idade. 


Não ter mencionado outros álbuns ou musicas lançadas este ano até aqui não significa que sejam menos importantes ou que houve xenofobia, é uma questão de disco duro já uma pouco cansado, se não falava de Fameliko,W-Meka, Uncle Rap, One Kiss, Dinho Gogo, Point Blank, 198X , Baze Central que nem se quer ainda consegui me dar tempo de escutá-los com atenção merecida. Ponto final,  se não nunca mais paro de escrever.