Por DJ Malele
Já lá vai um mês que tiveram lugar no mesmo dia, três shows de Hiphop na capital e arredores, acontecimento este que gerou
preocupação e debate por parte de amantes, fazedores e críticos do hip-hop nacional.
A verdade é que, mais do que lançamentos de álbuns, mixtapes e outros elementos,
a cultura hip-hop em Moçambique ocupa-se mais do elemento MC, elemento
mais presente em shows,
infelizmente ainda em pequena dimensão. Depois de pouco mais ou menos 20 anos de hip-hop
em Moçambique, pelo menos Maputo e seus bairros periféricos deviam andar a
concentrar cerca de quinhentas à duas mil pessoas em concertos onde o activismo que se
foca no desenvolvimento comunitário fosse uma realidade, antes mesmo de se tentar construir
astros onde
a indústria musical tem
falta disciplinar. De facto o liberalismo que assaltou-nos no final da década 80,
criou aspirações despidas de certezas sobre mercados e suas lógicas culturais, também despidas de
conhecimentos de códigos que nos levem a sermos bem recebidos por números consideráveis
de pessoas. É por estas e talvez por
outras razões não mencionadas aqui que andamos em fóruns privados como whats upps e plataformas sociais como facebook a discutir se deviam ou não haver concerto de hip-hop num único dia.
No dia 8 de Agosto teve lugar o concerto Agosto Mbawulene de Xitiku ni Mbawula no
Salão Assucena, bairro Patrice Lumumba, que demorou começar, mas o espirito que
se apoderou do Duo de Patrice e do público aderente ocultou a demora e as
pequenas insuficiências técnicas que caracterizaram o show. Na mesma data estava
a acontecer do outro lado da lua, a terceira edição da tourné Caixa Postal do
teu Bairro, dos Kapacetes Azuis, que teve lugar no Complexo Molumbela no bairro
do Zimpeto. Agendado muito antes do Agosto Mbawulene que esteve inicialmente marcado para 1 de Agosto,
mas que por razões envocadas pelos donos do espaço, e alheias a vontade de Dinguizwaiu e Sgee,
teve que ser adiado para 8 de Agosto, data para qual os Kapacetes Azuis já se
haviam posicionado para Zimpeto. Um terceiro show também estaria a ser
publicitado na internet e com toda pompa e circunstância e de minuto em minuto na Rádio Indico sobre Duas
Caras e um tal de "Vitz Amarelo", para a mesma data e hora só que desta feita no
Café Bar Gil Vicente. Não importa agora fazer estatísticas mas os três shows
aconteceram cada um a sua maneira sem que fosse culpa dos organizadores que
acontecessem no mesmo dia. Agora, não me digam que temos temos que coordenar
para não haver choques.
É preciso que os grupos realmente mostrem o seu
valor arrastando os seus públicos independentemente de um outro evento
relacionado com hip-hop que esteja a acontecer. Se não teríamos que fazer xitique, no sentido de hoje vamos para
ali amanhã vamos para acolá, proibindo que um outro membro do grupo do xitique faça a sua festa, e de facto na lógica do xitique não se fazem duas festas ou mais
de membros do mesmo grupo, a não ser que
as outras festas não tenham haver com xitique.
Não foi dado um tratamento de movimento
cultural ou social unido ao hip-hop moçambicano, e não vai ser agora por causa de shows
paralelos que vamos envocar a questão da união. Uma coisa é o amor pelo hip-hop
outra coisa é o amor por este ou aquele grupo e quando se trata de uma produção
cultural a venda, a espera de consumidores, é como um empreendimento que está
sendo apresentado para consumo, de tal
modo que se coloca em posição de competividade, vulnerável a morte súbita ou a
sucesso de bilheteira, é o elemento hustling,
que faz o seu enterprenurealism,
negócio nada pessoal, como já disse EPMD, “Business never
personal”.
Entre reflexões e rescaldos também vale a pena
saudar a outras iniciativas que estão a ter lugar e que fazem o hip-hop moçambicano
respirar, como por exemplo os lançamento de albuns Ackacyanos Vol. 2 de Ackacya Records
que promete lançá-lo fisicamente para breve, embora ainda muito na surdina está também disponivel o album Footprintz de Al Kaponn, o single É mais um novo dia de Epodez, o album A Moral e a História de Drifa e Fechadura, Decidí ser normal de Y-Not, aquela parafernália musical do Projecto Underground que faz limpeza aos esgotos, a semi-consciencialização dos 2 Lados, a toda coisa produzidas por Billy Ray, e as vezes pergunto pela ausência de um Terrabyte Espadachim, L Nato, Leybniz, Kalashnikov ou Rei Salomão que poderia devolvermos a questão do carisma, ajudem-me se faltar algum nome, não é por mal.
Também não nos devemos esquecer da mixtape Sociedade em Movimento de Singaman, que
está a conhecer uma óptima recepção em termos de vendas, sem deixar de lado os
lançamentos grátis, seja pela internet ou pela radio dos trabalhos como por exemplo "Universidade Cultural"de DJ Asnepas com participaçao de DJ EPM, DJ que tem vindo a destacar apresentações de live sets e varias edições de misturas disponiveis nas redes. São também de louvar soltas como “Andam loucos” de Big Trigah e Teknik pela MX Music, ou “Encontro de gigantes”
de 7 Kruzes com Big Triggah e Real Vice, assim como “Afrofobia” de GeeFly, "Eu amo o trabalho" de Cream & Da Page, “Estrelas
estão no céu” e “Predadores a solta” que
marcam o regresso de Almas Habitantes, ou ainda a indispensável “Superação de
vida” de Master Bad, esta última uma afirmação de mudança de comportamento que se faz
noticia das mais saborosas do momento quando se fala em Desenvolvimento Humano.
Sauda-se tambem nestas linhas à alguém que desconheço e que se arriscou a realizar com alguma segurança um concerto
intitulado HipHop Sensation que
trouxe o rapper sul africano AKA para o Parque dos Continuadores no passado dia
29 de Agosto, tendo como anfitriões uma corrente mais actual e mais pop rap com
nomes como Dice, Hernani, Slim Nigga, Lay Low, CR Boy, Dama do Bling entre
outros. Este concerto deve servir de lição aos rappers românticos a dormir na
sombra não sabemos de que bananeira.
Meu amigo Fábio a.k.a Drakulah tem uma energia
impecável e está de parabens em manter o esforço e trazer a cura através das
suas pregações, vale a persistencia, mas precisa de assessoria para enxengar longe, para não nos contentarmos
com atividades mecânicas. Quanto ao elemento DJ este está merecendo uma
especial atenção por um grupo de DJ´s (Budda, Sidney, Uncle P, Malele, Klax)
que a qualquer momento vão tirar o coelho da cartola, mais não disse. O mundo beatmaking levou a criação do Mute
Band, liderada por DJ Nandele para materializar o hiphop psicadélico combinado aos live drums and bass baixo.
Nandelle e Fu, tão bem fazem esse corta-mato para a performance alternativa do hip-hop.
Talvez este seja o caminho para poupar custos de bandas ou para se colmatar a
lacunas dos DJ´s que pouco fazemos realmente numa performance hip-hop, aliás Fu
já o disse nas reflexões do Hiphop Aprecition Week.
Dá me impressão que muitas
pessoas fingem não ver mas o certo é que Iveth vai representar-nos no próximo Festival
Internacional do HipHop da CPLP, e não vale dizer que devia ser Fulano ou
Cilcrano, porque esses não se fizeram visíveis a ponto de conseguir fazer parte
e porque tambem há plataformas que não hão de vir buscar o rapper sentado na
sua casa. Pela situação em que nos encontramos em termos organizativos e
internacionalização do nosso rap, melhor é não pensar no que seria ideal ou não
porque Iveth é ideal para já, e só nos resta deselhar-lhe o óptimo
trabalho no Arena em Lisboa, dia 9 de Outubro.
Não deixamos de lado os Live Shows do programa Marcas do Hiphop da Gungú TV, que estão
chamar a vontade inédita ou antes inconcebível de supostos undeground Mc´s de se preocuparem com vídeos, mas diga-se em abono da
verdade que durante todos estes anos tem sido difícil para o hip-hop no geral incluir
vídeos na sequência de programas bem conhecidos, sem querer mencioná-los.
Por isso Marcas do Hiphop e HipHop Randza são a luz no fundo do túnel para que,
não de forma banal e ignorante, possam ajudar o nosso hip-hop a escrever certo
em linhas tortas. Há uma dificuldade em
pensarmos, sentirmos e agirmos na mesma direção mas seja como for há que
desejar muita força nessas atividades a gente incansável como Siderurgia Núcleo
de Hiphop, Consciênte Sociedade, Rap Mais que Musica,Thumba Sounds, B Records, Revolution, K7s Style Entertainment, Unidos Pelo Rap Moz, Brain Events, DJ Leopardo pela reunião dos 32
rappers de quase toda a parte do país.
No Horizonte estão a vista shows, uns próximos e outros mais
distantes, a começar pela re - edição do Ponto 21 Maior Idade: Geração Beats de
Baba X, dois anos depois, a acontecer no próximo
dia 19 de Setembro no Café Bar Gil Vicente, inserido no Caixa Postal do teu bairro
que vai na quarta edição. A Small, Squeeza, Mykha e Rosy, Lubengula e Xitiku ni
Mbawula, DJ Malele e Magus da Siderurgia vão fazer as honras da casa nesta iniciativa da K7s Style
Enterteinment.
Segue-se “Música Armada de Conhecimento” uma iniciativa de PR Dogg que sobre vantagens televisivas vão deixando as suas Marcas no Hiphop e terá lugar no dia 26 de Setembro. Jazz P, Matador, Inocente, Hell Soldiers, Lubengula e Don Mcezalin estão destacados no cartaz, e ainda bem que não é uma lista de rappers que ultrapassa os meus dedos. Entre estas datas pode ser que caia em Maputo um rapper de Detroit para o Festival Amor a Camisola, é só ficarmos atentos, assim, enquanto formos tchonados não precisamos de ir à Soweto para ver nossos irmãos das terras do Obama aqui em casa, e nesse âmbito prevê-se que rappers, escritores e declamadores discutam caminhos para a sua poesia contribua para transformação da sociedade.
Segue-se “Música Armada de Conhecimento” uma iniciativa de PR Dogg que sobre vantagens televisivas vão deixando as suas Marcas no Hiphop e terá lugar no dia 26 de Setembro. Jazz P, Matador, Inocente, Hell Soldiers, Lubengula e Don Mcezalin estão destacados no cartaz, e ainda bem que não é uma lista de rappers que ultrapassa os meus dedos. Entre estas datas pode ser que caia em Maputo um rapper de Detroit para o Festival Amor a Camisola, é só ficarmos atentos, assim, enquanto formos tchonados não precisamos de ir à Soweto para ver nossos irmãos das terras do Obama aqui em casa, e nesse âmbito prevê-se que rappers, escritores e declamadores discutam caminhos para a sua poesia contribua para transformação da sociedade.
Lamentamos a morte de Sean Price, mas a vida
não para pois Crack e Da Page reservam para o dia 10 de Outubro de 2015 a apresentação
do seu álbum, Ah Compone, embora ainda
não temos a ideia em que realmente consiste o trabalho, mas é só
imaginar a função de cada um deles, está claro que Crack não faz beats e nem se quer
Da Page faz performance rap. Cá entre nós, está em curso a idealização da Gala
dos dos 20 Anos do programa Hiphop para 2016 tendo em conta a dimensão que requer comemorar 20 anos, já que data comemorativa é 18 de Novembro. Enquanto esperamos por essa data vamos procurando apoios e
minimizando condições, se bem que a esta altura de final de ano só o mágico
Zimba para fazer milagre, a ver vamos. Já agora podemos iniciar o debate seja
ele público ou não sobre quem deveria ser distinguido pelo seu contributo ao
longo dos 20 anos do clássico hiphoptime. Só para corrigir, o termo clássico
não se refere a um estilo de hip-hop, mas sim a longevidade do programa, se bem que
para se ser clássico deve-se ser meio secular não? Mas aqui, apropriamo-nos do
conceito como recurso estilístico para dizer, antigo, maduro, velho não seria, acho
que ainda não atingiu a terceira idade.
Não ter mencionado outros álbuns ou
musicas lançadas este ano até aqui não significa que sejam menos importantes ou
que houve xenofobia, é uma questão de disco duro já uma pouco cansado, se não
falava de Fameliko,W-Meka, Uncle Rap, One Kiss, Dinho Gogo, Point Blank, 198X , Baze Central que
nem se quer ainda consegui me dar tempo de escutá-los com atenção merecida.
Ponto final, se não nunca mais paro de escrever.