Tuesday, December 11, 2012

LEITURA DE NIOSTA A FIGURA DE HELDER LEONEL



FONTE: www.africagoingtounite.blogspot.com

O homem que nos momentos de incerteza e escuridão "carrega nas costas o movimento hip hop nacional" (Hip Hop representado no "Aquario Soul", www.classicohiphoptime.blogspot.com) e que procura na música um lugar "para ser eterno" (idem). A sua carreira poderia muito bem ser descrita como a trajectória do próprio Hip-Hop feito em Moçambique. A mais controversa, a mais amada e, ao mesmo tempo, mais odiada figura do Hip-Hop que ajudou a construir e ao qual deu sentido. O mais actuante, o mais influente personagem do movimento urbano/suburbano musical emergido nos inícios da década de 1990 na cidade de Maputo. Aquele que, definitivamente, será reconhecido como o maior hip-hopper moçambicano de sempre: Hélder Leonel Malele.
Hélder Leonel, Lil Brother H, Face Oculta, DJ Malele, são as diferentes faces e nomes do homem que revolucionou o Movimento Hip-Hop moçambicano e deu significado e algo por que lutar à uma geração.
Apesar de eu e ele, algumas vezes, termos posicionamentos divergentes -- por exemplo, desde 2007 que eu não concordo que o Clássico Hip-Hop Time passe Hip-Hop internacional, numa época em que existe muita música nacional boa e suficiente, e, por conta disso, de lá para cá, nunca mais escutei nem mandei música minha para aquele programa, portanto, não sei se ainda passa ou não Hip-Hop internacional no programa -- eu reconheço Hélder Leonel como o Hip-Hopper Número 1 do Norte ao Sul e do Zumbo ao Índico.
Contudo, sobre a complexa e longa carreira de Hélder Leonel, estou a escrever vastamente e profundamente e exaustivamente, exactamente como vasta e profunda sua carreira é, no Tratado Sobre o Hip-Hop Feito em Moçambique que estou a elaborar.
Nestas linhas, vim, especificamente tratar do rapper/produtor Face Oculta. E vim trazer, em ordem cronológica inversa, 3 magníficas músicas gravadas sob esta faceta. Músicas tiradas de diferentes fontes, juntei-as num único pacote, ao qual atribuí, livremente, o título de Músicas da Face Oculta.
A primeira, "Balanço Inspirador", produzida pelo Paiol Sonoro, para o single "Tsunela Ka Muloro" daquele colectivo, é uma música Rap, curta, concisa, inspiradora, balançando entre o Neo Soul e o R&B, entrando e saindo do Jazz até atingir o seu ponto alto já perto do fim, quando Face Oculta, genialmente, expõe a sua visão sobre o estágio actual do Hip-Hop feito em Moçambique:
"Vejo tanta quantidade com pouca qualidade
Mas nessa qualidade vejo pouca dignidade"
De qualquer das maneiras, Face Oculta não é de demorar-se nem é de escrever rimas desnecessárias. É o exemplo maior de rigor e talento no Hip-Hop Moz. Escreve o suficiente e canta com sobriedade. Aliás, menos, não seria de se esperar. "Voz antiga no activo", "um senhor e já não um rapaz" ("Balanço Inspirador"), nascido a "28 de Outubro de 1975, no Chamanculo, em Maputo" (http://videorapmoz.blogspot.com/2010/11/helder-leonel-biografia.html), Face Oculta é o decano do Hip-Hop Moz. E, claro, um dos seus artistas mais finos, mais claros, mais maduros e convincentes, e, definitivamente, dos pouquíssimos artistas reais que se podem encontrar.
Seus talentos na produção também são notórios. Talentos que apareceram sedutoramente expostos na música "Amor Real", "um som 'light' produzido por si, com a participação de Xixel nos coros, que mostrava uma nova fase da sua vida em termos de relações e uma tendência para o Hip Hop Jazz" (http://videorapmoz.blogspot.com/2010/11/helder-leonel-biografia.html).
A terceira música do pacote, "A Fúria das Águas", é uma obra-prima do Hip-Hop Moçambicano. Emergida da, hoje clássica, compilação Atenção: Desminagem! da Kandonga, de 2003, nessa música Face Oculta leva-nos ao ambiente rural de uma localidade de Xai-Xai, província de Gaza, e descreve, magistralmente, a jornada épica de uma mulher grávida que, tendo perdido todo o pouco que possuía, incluindo casa e um lugar onde pisar, por conta das cheias, culmina com o parto dramático feito em cima de uma árvore (mafurreira), e termina com a mediatização dessa jornada por parte dos mídia e políticos. Baseada em factos reais, a instrumental minimalista, seca, dura, e a atmosfera rural sonora recriam assustadoramente aquele mês de Fevereiro do ano 2000 e dão vida à uma obra-prima que celebra a perseverança do espírito humano e a criatividade única da Face Oculta. Uma obra-prima absoluta que, em 2003, elevou o Hip-Hop moçambicano para um outro nível e que se afirma com o passar do tempo.

por Niosta Cossa